Neste exato momento está sendo
votado na Câmara dos Deputados do Uruguai o projeto de lei sobre a legalização
da maconha. O texto prevê que o usuário, devidamente cadastrado, possa comprar
até 40 gramas por mês ou, caso deseje, cultive a planta – limite estipulado em até
seis pés por residência. Além disso, sua produção para fins científicos e
medicinais será permitida. E, não, ela não poderá ser usada em qualquer lugar
ou circunstância: fumar um baseado em espaços públicos fechados e/ou dirigir sob
seu efeito não será permitido. É vetada, também, sua publicidade.
Enquanto isso, no Brasil, o
cenário é outro.
Foto: Eliária Andrade/Agência O Globo |
Mas, então, quem diferencia?
Sabemos que as desigualdades
sociais governam o Brasil de forma brutal. Desigualdades que não desaparecem só
porque um trabalhador pode desfrutar de uma TV LCD (dividida em dezenas ou até
mesmo centenas de parcelas), coisa que era impossível de acontecer décadas atrás.
Somente o acesso a bens materiais não garante igualdade social.
Essas desigualdades persistem, entre
muitos motivos, porque há pessoas que assim querem que aconteça. E essas
pessoas estão, em sua maioria, no poder. A ausência de igualdade permite que
essas (poucas) pessoas continuem a desfrutar de sua boa vida e de seus bons
lucros e regalias. Como já observou Marx e tantos outros pensadores sensatos, é
necessário que exista o pobre para que exista o rico.
É justamente nesta questão que se
encontra a resposta da pergunta acima.
A diferenciação é baseada nas próprias
condições sociais do usuário de drogas. Desde sempre a militarização das
polícias brasileiras foi e continua sendo causadora do genocídio que impera as
favelas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou de qualquer outro
estado. Favelas, estas, que causam medo e repúdio na classe média – composta por
um número grande de leitores da revista Veja -, sentimento que a torna por
vezes condizente com o desaparecimento dos muitos Amarildos que acontecem todos
os dias no Brasil.
O fato é que um usuário de
maconha, ou de qualquer outra substância, negro e morador do Capão Redondo, se
flagrado pela polícia com uma quantidade X da droga, tem chances de ser
enquadrado como traficante e não o contrário. Em contrapartida, o indivíduo branco
e residente em Perdizes, com a mesma quantidade do usuário do Capão, é
definitivamente uma “vítima” das drogas e precisa de acompanhamento médico e
psiquiátrico.
É por estes e outros tantos
motivos que se faz necessária uma mudança drástica na política brasileira sobre
drogas. Diversos países do mundo, percebendo a ineficácia da repressão às drogas,
já mudaram o modo de pensar o assunto. Até mesmo os Estados Unidos, símbolo da “guerra
contra as drogas” declarada por seu ex-presidente Richard Nixon, percebeu a
ineficácia deste sistema: Washington e Colorado legalizaram em 2012 o uso recreativo
da maconha.
Ainda há muito que se ajeitar em
relação ao Brasil, apesar da discussão amplificada do assunto por diversos
setores da sociedade. É preciso entender que a repressão às drogas não surte
mais efeito, se é que um dia teve algum. Ela serve apenas para segregar ainda
mais o país.
Um comentário:
E viva Mojica.
Tô com uma saudades de ti garoto amarelo.
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