Seus dedos fediam, sua boca fedia e seu cabelo também. Ele parecia fumar o tempo inteiro. Em lugares públicos, tragava um cigarro imaginário, que era para não se sentir tão só. As pessoas não o entendiam porque ele não entendia as pessoas. Melhor: ele não entendia o mundo. Aprendeu a parar de indagar e a mastigar o silêncio nas horas mais amargas. Sua imagem no espelho nada mais era do que uma imagem. Era qualquer outro que não fosse ele. Demorou a entender o que se passava na sola dos pés quando eles sangraram. Não sentiu pisar nos cacos que deixou no chão. Não chorou quando soube que pisava em si mesmo.
Ele era um vazio ambulante
Era tarde demais para pensar em si mesmo. Viu-se completamente destruído diante daqueles mil pedaços de espelho, espatifados pelo chão do banheiro. Não teve coragem de chorar por si mesmo e arrepender-se do que era para ser arrependido. Mil coisas se passaram e ele, naquela multidão no trem, esmagado como atum em lata, não notou que o mundo girava. Só ele não percebia o sangue que escorria das palavras que saiam de sua própria boca. Ele era um vazio ambulante.
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Um comentário:
Me senti parecida com ele, seja este quem for....
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