Quando Vera conheceu o mundo

Vera não era entendida da vida, pelo menos não como suas amigas pensavam. Não havia sentido, até aquelas dezoito primaveras, o calor de outro corpo, nem tinha visto nudez alheia. Tinha pudor nas aulas de Ciências quando o professor pedia aos alunos para abrirem os livros no capítulo dos órgãos reprodutores. Aranhas e cobras, só havia visto em ilustrações.
Aquelas ilustrações, portanto, a assustavam. Abria devagar as páginas e, depois de três segundos de olhos abertos, encarava a escuridão das pálpebras. As imagens não saiam de sua cabeça a ponto de imaginar “coisas”.
Às terças-feiras seus pais participavam do bingo comunitário e voltavam após às 22h. Foi em um desses dias, ela bem o lembrava, ocorreu desses pensamentos demoníacos a possuírem por completo. Diante da solidão da casa e o conforto íntimo de seu quarto, Vera puxou para perto de si o livro de Ciências, abriu-o nas páginas proibidas e cobriu-se com o edredom.
Não soube quanto tempo se passou. Não sabia se fez aquilo por dois segundos ou duas horas. O tempo pouco lhe importara naquele momento solene quando tocou-se amorosamente e sentiu a tepidez de seu sexo. Não teve medo das ilustrações, tanto que esfregava as páginas contra a própria face, mordendo e lambendo aqueles órgãos com gosto de papel.
Foi quente. Apesar de suave, surgiu-lhe abrasador. O seu deserto encheu-se d’água, assim como seus olhos, emocionados diante daquela coisa tão bonita. Vera conheceu o mundo.