Pouco iluminada
era aquela rua vazia, que se estendia até uma praça perdida em escuridão. O que
se via com algum detalhe era por causa da lua que trazia claridade. O bêbado tinha
o medo aprisionado pelo álcool, mas em seu estado normal teria algum receio em
passar tão tarde por aquelas bandas. Desbravava os buracos e o lixo nas
calçadas num trotear cambaleante, que entregava seu atordoado estado de
lucidez.
Já tinha
perdido a bituca quando decidiu das um trago no cigarro. Virou-se numa
tentativas resignada de encontrar o que havia caído em algum lugar, mesmo tendo
certeza de que aquilo seria completamente em vão. Nisso, notou do outro lado da
rua. A vista embaraçada permitiu-lhe ver pouco, mas o que vira foi o bastante
para perceber que estava sendo seguido.
Andava
devagar, e a sombra parecia acompanha-lo em seu caminhar. Até mesmo seus
tropeços eram seguidos à risca. Tratou de acelerar o passo, o que foi seguido
pela sombra com a perfeição de um mímico imitador. Quando parava, o outro
também parava. O pior de tudo era que sentia-se vigiado por olhos ocultos pelas
sombras.
Para ele, não havia
dúvidas de que se tratava de um assalto e, apesar de ter certeza daquilo, não
entendia muito bem o motivo da sombra ainda não ter atravessado a rua. Talvez,
pensou, estivesse se preparando para o bote. Sentia que não poderia correr,
pois o assaltante, que provavelmente não estava bêbado, não tardaria em alcança-lo
e ser atacado pelas costas não seria uma boa ideia.

O homem que o
perseguia não era nada mais, nada menos do que si próprio, assustado com sua
sombra em movimento. Olhou para os lados e viu somente um cão amedrontado com o
ruído do alarme do sistema de segurança da agência bancária. Não tardaria em viaturas
cintilantes estacionarem no meio da rua e ordenarem ela a erguer as mãos e se
render. Correu até suas pernas cansarem.
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