Entrevista com Adriana Kairos

Livro de estréia da escritora e poeta Adriana Kairos, Clarabóia.

Tive a honra de conhecer esse exemplo de vida no lançamento da Antologia de contos policias brasileiros, "Assassinos S/A", lá no Rio de Janeiro. Não me dei conta de como fui sortudo ao meu texto ter sido publicado ao lado da Adriana. Ela chegou exibindo um sorriso de orelha à orelha, exalando simpatia por todos os poros do corpo. Me abraçou. Pensei "Eu vou ser amigo dessa mulher". E assim, o destino tão amigável comigo, o fez. Apesar de não termos trocado tantas palavras, o que realmente é lamentável, pude ter um contato muito maior com essa figura pelas redes na Internet. Ela me contou sobre grande parte de sua vida. Eu contei a minha. E assim começou uma amizade que dura até hoje, apesar de não muito tempo, mas sei que levarei essa mulher pro resto da minha vida, na mente e no coração.

Decidi fazer uma entrevista com ela não por ser amiga minha. Mas por ser extremamente talentosa, à ponto de eu achar que essa mulher tem muito o que acrescentar na vida de todos. E acrescentar coisa boa. É através de seus textos escritos com tanto carinho que recebemos mensagens de progresso espiritual e mental. Com a maturidade de um José Saramago em suas palavras, ela exibe que realmente sabe do que está falando e do que quer transmitir.

Segue, abaixo, a afável entrevista com a escritora e poeta carioca, Adriana Kairos:


LF: Dizem que escrever é difícil. Outros, ainda, dizem é extremamente fácil. Como é escrever para você?
AK: Escrever, para mim, é um parto. Sofro a cada linha. Sinto-me invadida por inúmeros e dolorosos sentimentos, horas meus e outras não. Contudo os recebo como um sofrer gostoso, quase sexual (risos) e quando, por fim, o texto “nasce”... Uau! É puro êxtase. Sinto-me plena e vazia ao mesmo tempo. Fico ansiosa pra gerar outro. Ansiosa por sofrer e parir outros sentimentos em palavras, derramadas gota a gota nas folhas brancas de um papel qualquer.


LF:
Podemos notar, tanto em suas conversas quanto nos textos em que você produz, uma forte preocupação com a literatura em locais de difícil acesso para a cultura, como comunidades carentes, por exemplo. Você enfrenta essa realidade de perto. Em sua visão, como essa situação pode melhorar?
AK: É verdade. Mas não só a literatura como também todas as manifestações de cultura e arte dos espaços populares me interessam. Penso que muitos de nós (“seres periféricos”) estamos, aos poucos, pondo a boca no mundo. Acredito que estamos no caminho é por ai mesmo. Fazer arte independente da arte que o mundo faz com a gente.


LF:
Internet e Arte. Dá certo? E como ela ajudou em sua carreira literária?
AK: Claro! Super certo! A internet, de fato, democratizou a viabilização de muitos projetos artísticos e culturais de muita gente boa por ai. Além de divulgar de uma forma mais global (se é que pode se dizer assim) toda essa diversidade de conteúdos. Bom, para mim, a internet foi fundamental e continua sendo. Desde o meu primeiro post, que aconteceu de maneira muito tímida, no site RELEITURAS até a criação do blog, o CARTOGRAFIA N’ALMA e a realização do livro impresso, o CLARABÓIA; o reconhecimento do meu trabalho tem aparecido de maneira gradativa, porém constante com direito a homenagens e coisas do tipo. (pois é, pois é, pois é... rsrs)


LF:
O Brasil é um país que lê pouco. Fato. De quem é a culpa? Você acha que falta incentivo à cultura por parte de nossos representantes políticos ou a culpa é dos escritores, que não sabem fazer um leitor gostar de ler?
AK: Vamos refletir sobre isso de outra maneira. Em minha opinião, o fato do Brasil ser um país de poucos leitores se dá por algo que vai mais além de simples projetos de incentivo a cultura ou do fazer literário de nossos escritores. Acredito, piamente, que o problema está na falta de investimento e planejamento na Educação do nosso país. Vejam, todos os anos saem, só das escolas públicas, milhões de alunos do Ensino Médio que jamais tiveram, durante toda a sua vida escolar, qualquer incentivo a leitura. E não pensem que estou exagerando. Salvo alguns bons professores que assumiram de fato um compromisso com a Educação - coisa difícil, diga-se de passagem, com o salário que recebemos - a coisa funciona mais ou menos assim, principalmente nas escolas públicas: o professor finge que ensina, o aluno finge que aprende (por uma série de motivos que não cabem aqui por hora) e no final temos milhões de diplomas (canudinhos vazios), escolas com “verbas”, ou seja, “funcionando”, o Estado “feliz” com os novos números de aumento no índice da escolaridade e etc. Fantástico! Não acha? Eu não acho. Estes analfabetos funcionais com seus diplomas (quero deixar claro que não estou pondo culpa no aluno, mas mostrando, a partir do meu ponto de vista, como as coisas funcionam. E acredite, eu sei do que estou falando) não conseguem, muitas vezes, interpretar um texto simples ou mesmo ler uma lauda sem gaguejar. Pois é, são estes alunos que vão tentar o PROUNI, num sincero desejo de mudar de vida, “melhorar” com um diploma universitário. Muitos desses alcançaram o objetivo e chegam a ocupar os bancos das faculdades particulares (inclusive de Letras) por ai a fora. Com sorte terminaram seus singelos cursos sem nunca terem lido, ao menos, os clássicos (autores contemporâneos então, nem pensar), apenas trechos ou resumos baixados da internet para passar nas provas semestrais e estou falando dos estudantes de Letras, imagine o que acontece com os outros cursos... Estes professores, meus colegas, estão se formando e entrando em salas de aulas para formar os novos leitores. Percebe como o problema é muito mais complexo? Eu poderia falar por horas sobre este assunto, no entanto quero apenas chamar atenção para este aspecto da situação do nosso país e seus quase-leitores.


LF:
Você deixou bem claro que é adepta ao Socialismo. O Brasil seria um país melhor, mais igualitário, se fosse socialista? Por que acha que não deu certo em alguns países que foram adeptos à esse tipo de política, como a URSS, por exemplo? Daria certo aqui no Brasil?
AK: I have a dream!!! (risos) Acredito no poder popular, acredito sim que poderia dar certo. Cuba nos mostra que é possível, apesar do embargo. A UNICEF já atesta em seus relatórios que não há desnutrição infantil naquele país
(
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?idioma=PT&cod=44113). A Saúde e a Educação são, verdadeiramente de excelência naquele país, apesar de todas as adversidades. E por falar em Educação, “100% das crianças e adolescentes cubanos freqüentam a escola, que é obrigatória por nove anos e segue sem custar um centavo até o nível universitário, onde até mesmo os livros são gratuitos. A lei cubana obriga os pais a enviarem seus filhos à escola.” (trecho do site UOL notícias de 01/01/2010)
http://noticias.uol.com.br/bbc/reporter/2009/01/01/ult4909u7018.jhtm
Ah! E por falar nisso, estou lendo um livro incrível que fala justamente sobre este assunto, chama-se: A VANTAGEM ACADÊMICA DE CUBA de Martin Carnoy. O Socialismo é sim o caminho. Contudo sabemos que também é um processo que passa mais uma vez pela Educação. “EU TENHO UM SONHO!” E não duvide dele!


LF: Processo criativo e inspirações. Cada artista possui um. Como é o seu? De onde vem as suas inspirações?
AK: Das mais diversas partes. Desde Rubén Dario a Clarice Lispector, da Legião Urbana a Edith Piaf, de Tarcila a Dali, do Tintin a turma da Mônica, dos musicais de 30 as superproduções cinematográficas de hoje, mas principalmente dos olhos das pessoas. Todos têm uma história transcrita nas retinas.


LF: “Clarabóia”, seu livro solo. Seus textos já participaram de outras publicações, como antologias, por exemplo. Como é ter seu primeiro trabalho publicado?
AK: Putz! É muito bom! Eu sei que é muito clichê dizer isso, mas é como ter um filho. E o mais legal é descobrir que outras pessoas também acham o seu bebê “fofo”. hahaha



LF: Uma frase, que, pessoalmente, gosto muito, é "Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial”, da Virginia Woolf. É prazeroso escrever, para você? Ser lido é superficial?
AK: Sim, escrever é um prazer, louco, animal, visceral, no entanto, ser lida... Eu não diria que é vital como escrever é para mim, mas também não é superficial como disse Woolf. Eu diria talvez que é diferente.


LF: Referências. Querendo ou não, todo artista possui uma. Naturalmente, um escritor se inspira ao terminar de ler um livro. Um artista plástico, ao contemplar uma obra de arte. Um músico, ao ouvir uma música. Quais são seus ídolos inspiradores (se é que possui algum)? São ídolos apenas na Literatura? As outras áreas da Arte (música, cinema, artes plásticas, etc.) te servem como inspiração também?
AK: Nooooossa!!! Eu ouço, assisto e leio tanta coisa que tudo fica, de alguma forma, impregnado em mim. Tenho tantos ídolos por suas obras que cansaria o leitor se eu os listassem. No entanto, Mercedes Sosa é para mim uma referencia de vida e de obra.


LF:
Escritores. Conhecidos ou não. Quais você admira?
AK: Vamos lá! Os conhecidos primeiro (risos): Clarice Lispector, Gabriel Garcia Marquez, Charles Baudelaire, dentre outros. E dentre os quase ilustres (risos)... é bricadeira! Aprendi a admirar muitíssimo um jovem escritor, muito promissor, diga-se de passagem. Um tal de Leandro Fonseca. Que alias estou tendo o privilégio de ler o seu manuscrito (ainda não terminei), mas estou adorando. Ah! E também ADORO um poeta suburbano chamado Gledson Vinícios. O cara da “Literatura de Segunda”, o dono absoluto do blog “Porão do GV”. Adoro a maneira como ele descreve o subúrbio carioca. É lindo, chocante, poético, absurdo e extremamente fantástico! Recomendo estes dois ESCRITORES!


LF: Não tenho mais idéias para perguntas. Entrevista, pra mim, é como sexo. E sendo assim, te pergunto: foi bom para você?
AK: (suspiro) Tem um cigarro? Hahaha Que delícia! rsrs


LF: Agora fale o que quiser. Fale mal. Fale palavrão. Dê mensagens positivas ou negativas. Este espaço é seu, agora.
AK: Acho que se é pra deixar uma mensagem creio que o melhor que tenho a dizer são alguns versos do meu querido Chico Buarque:
“É sempre bom lembrar um copo vazio está cheio de ar.”
Beijos a todos!
Valeu porra!!! (ih, pronto! Falei.) rsrs



Após esse sexo verbal (salve Renato Russo!) com a talentosíssima Adriana Kairos, quero deixar aqui o meu agradecimento à ela, que com toda a paciência existente na via láctea, respondeu com carinho as minhas perguntas.

Ela escreve nos blogues:

http://cartografianalma.blogspot.com/ (poesias e contos)
http://adrianakairos.blogspot.com/ (opinião)
http://kairospoesis.blogspot.com/ (concursos literários e eventos)

2 comentários:

Cartografia n'alma disse...

Mais uma vez quero agradecer, do fundo do coração, esta opotunidade de falar o que me dá vontade. haha
bjks!!!

Ricardo Valente disse...

Bem legal a entrevista. La embaixo tb! Parabens aos dois!
Abc!