Para ressuscitar 64

I

Ouviram de Paraisópolis, Brasilândia e Heliópolis,
às margens de córregos a céu aberto,
o grito retumbante de um povo pobre.
E o tiro da polícia, em raios fúlgidos
Brilhou no céu da quebrada nesse instante.

Desafia o nosso peito a própria morte
Idolatrada pátria amada,
Salve! Salve!
De ódio e fome as crianças aqui crescem.

Gigante adormecido pela própria ignorância,
És frio, és sujo, impávido governo.
E o teu futuro espelha essa incerteza
Terra vermelha de sangue.

Dos pretos deste solo és capataz cruel,
Ó pátria amada.



II

Deitado eternamente no frio cimento
Ao som do pranto e à luz do giroflex
Fulguras, ó cadáver, sob lona escura.

Do que a bala mais perdida
Tuas tristonhas, rudes fardas têm mais sangue
Nossa vida, na tua mira, vira estatística.

Ó pátria idolatrada
Amada, de silêncio e repressão tu és símbolo.
O lábaro que ostentas tem cheiro de morte
E diga o vermelho-sangue desta flâmula
- Paz é lenda e glória não enche barriga.

Verás que um filho teu de tiro foi pro IML
E nem teve tempo de temer a própria morte.
Terra vermelha!
Entre outras mil
És tu, Brasil, ó pátria amada.


Dos filhos pobres deste solo tu se esqueceu.    


(30/03/2014)

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