Domingo me mata. Me mata essa falta
do que fazer, esse ócio nada criativo e inerte como uma ameba. Quilos e quilos
de merda e litros e litros de urina são despejados pela televisão diariamente,
mas me parece que é especialmente aos domingos que a qualidade dos programas
entra em decadência profunda. As pessoas zapeiam canais de venda à procura de
mais alguma inutilidade para estocarem em algum quartinho de quinquilharias. Muitos
preferem enfiar uma bala da cabeça ao invés de desligar a TV.
É no domingo que devotos se erguem
cedo de suas camas, tomam café e vão para alguma igreja mais próxima expurgar
os pecados acumulados na semana. Depois formam aglomerações em portões de casas
vizinhas numa assídua atividade de espalhar boatos. Fofocam sobre o carro novo
que Fulano ou Cicrano comprou e depois debatem sobre a melhor opção de almoço.
E por falar em almoço, aos domingos o
consumo de macarrão ao molho pronto junto com frango assado é obrigatório. Mas
há, também, as famílias que se aventuram em algum restaurante, todos a se
espremer à procura de alguma mesa vaga.
A falta do que fazer num domingo
propicia a reunião de parentes longínquos na sala de estar. E essa é a pior
coisa de um domingo, levando-se em consideração as tantas horas - que parecem
intermináveis – nas quais tios e primos se dedicam a analisar sua situação
financeira no momento, ou qualquer outra coisa que não lhes convenha saber.
O domingo é uma espécie de prenúncio
de morte para aqueles que não se importam/interessam/gostam da vida. É nele em
que tem-se a absoluta certeza de uma semana inteira que está por vir, carregada
de obrigações e deveres que, se dependessem de você, nunca seriam cumpridos. Mas,
quando me vem abruptamente esse vazio dolorido que permeia os domingos, quando
ele me vem para tirar um pouco o gosto da vida, tomo cerveja. As coisas ficam
menos difíceis.
20/05/2012
4 comentários:
"domingo é um cachorro escondido debaixo da cama"
Isso um dia já foi verdade pra mim, não que ainda não ache o domingo chato, mas gosto dele longo e lento.
Porém, meu domingo passa rápido, pq eu trabalho nos meus projetos pessoais, me canso, aprendo, ME OCUPO, rabisco, vetorizo, "salvo como...", aprecio, e lá foi o domingo.
eu me sinto deprimidissima aos domingos querendo ocupá-los com algo importante, mas nada parece funcionar aos domingos.adoro o jeito qie escreve, parabéns!
O domingo se torna melhor ao ler seu artigo. Inusitado, que entretanto somente diz verdades de um modo, que outros, não saberiam dizê-las. Congratulações.
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