Níquel

Estátuas vivas nas ruas,
inertes na espera
de um níquel.

O mármore das faces pintadas
ilumina a cidade
como um outdoor obsceno,
e encaram os homens em fila
a esperar dez minutos
por um pouco de fantasia.

São gueixas, essas mulheres,
pálidas como a neve
inexistente no calor
de um par de corpos.

Ocultam-se no próprio silêncio
e gritam apenas quando
as pernas se abrem,
mostrando a caverna
em que estranhos
desejam se abrigar.

Não há rostos e nem nomes,
apenas o sussurro
se faz canto
em um fugaz segundo
que voa como pássaro
na pequenez da própria gaiola.

A solidão alheia
pede passagem
na solidão das ruas,
e contempla-se, somente,
a carne já usada
- Afinal, são estátuas!

A boca não é capaz
de dizer o que no peito
se esconde com amargura.

Um níquel por uma noite
e nada mais.



(23/03/11)

4 comentários:

Júlia Kabbas disse...

gostei dos teus textos.. esse trecho, em especial 'a boca não é capaz de dizer o que no peito se esconde com armargura', não sei, mas acho que me fez ver de outro ângulo as pessoas que vendem corpo. parabéns pelo blog e obrigada pela reflexão

Noiva Cadáver disse...

Concordo com o comentário acima.
Bjs

Ka disse...

Muito FODA!
Gnomo =)

Yehrow, Adônis, ou quem quiser eu seja. disse...

Se modular fosse permitido, diria, esse é um sonífero que desperta os os homens, mas, que adormecem os sentimentos daquelas que doam prazeres. Muito bem focado a agonia destes seres.