A Aparição

Era um negro desejeitado, de cabelo raspado, que andava todo desarrumado: foi ali que o vi, naquela estação de trem esperando o namorado (quem sabe? Um homem tão efeminado!) com uma rosa vermelha no bolso do paletó, todo iluminado pelo sol das seis. Fazia frio e ventava, nossos cachecóis dançavam como bailarinas francesas, e num plié um calafrio nos cortava a espinha. Suas mãos enfiadas nos bolsos dedilhavam as moedas e chaves da casa, provavelmente.
Quando o trem se aproximara, pude vê-lo olhar para mim com seus olhos demasiadamente brancos, e então uma pétala de sua triste rosa vermelha caiu pro lado do bolso, pendendo como um cadáver. O negro desajeitado deu alguns passos para frente, sempre com as mãos nos bolsos, adentrou com suavidade no vagão e sumiu da minha vista. Ali, diante de mim, somente o sol me acalentava com seu afável ardor contra a pele gélida, e de nada mais me relembrei daquela pessoa.



(09/09/10)

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